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Cansaço que não passa? Pode ser inflamação crônica
A inflamação crônica é constante. O sistema imune permanece ativado por longos períodos, liberando substâncias inflamatórias que, em vez de proteger, passam a agredir os tecidos e órgãos do próprio corpo
Você acorda cansada, mesmo depois de uma boa noite de sono? Sente dores de cabeça frequentes, sofre com ansiedade, dificuldade para perder peso, problemas digestivos ou inchaço persistente? Esses sintomas, aparentemente isolados, podem ter uma raiz comum: a inflamação crônica.
Silenciosa e persistente, ela afeta as pessoas sem que percebam sua real origem.
— A inflamação crônica é invisível, mas seus efeitos são sentidos todos os dias— explica a médica nutróloga Daniela Kanno, com certificação internacional em Medicina do Estilo de Vida.
De forma simples, a inflamação pode ser dividida em dois tipos. A aguda é uma reação natural do organismo diante de infecções ou lesões — como uma gripe ou um corte na pele. Ela ativa o sistema imunológico para combater o agente agressor, num processo com começo, meio e fim.
Já a inflamação crônica é sorrateira e constante. O sistema imune permanece ativado por longos períodos, liberando substâncias inflamatórias que, em vez de proteger, passam a agredir os tecidos e órgãos do próprio corpo. O resultado aparece em forma de fadiga, ganho de peso, prisão de ventre, enxaqueca, queda de cabelo, pele ressecada, ansiedade e mudanças bruscas de humor.
— É comum o paciente tentar emagrecer sem sucesso, conviver com intestino preso, sentir a cabeça pesada, dormir mal e viver exausto. Tudo isso pode estar relacionado à inflamação — aponta Daniela.
Foto: Freepik/O Globo
Entre os sintomas mais comuns estão:
- Inchaço abdominal, gases, refluxo e azia
- Intolerâncias alimentares e enjoo matinal
- Mau cheiro corporal, gosto ruim na boca
- Unhas fracas, pele seca, pés rachados
- Dificuldade para dormir ou acordar
- Ansiedade, estresse, irritabilidade
- Falta de concentração, lapsos de memória
- Vício em doces, descontrole alimentar
- Gordura abdominal, celulite, perda muscular
- Acne, rosácea, dermatites, urticária, psoríase
- Cabelos brancos precoces, envelhecimento acelerado
As principais causas da inflamação crônica estão diretamente ligadas ao estilo de vida moderno. Entre elas, destacam-se:
- Dieta rica em alimentos ultraprocessados, açúcar e gorduras trans
- Disbiose intestinal (desequilíbrio na flora do intestino)
- Estresse crônico e noites mal dormidas
- Falta de atividade física
- Exposição constante a toxinas químicas (de poluição a cosméticos e produtos de limpeza)
- Uso excessivo de medicamentos, como anti-inflamatórios e antibióticos
- Consumo excessivo de álcool e tabagismo
- Baixa hidratação e deficiência de vitamina D
—Não é normal viver cansado. Hábitos ruins levam o corpo a um estado inflamatório constante — alerta Daniela.
Estudos científicos associam a inflamação crônica a uma série de doenças graves, como: síndrome metabólica, obesidade, diabetes, hipertensão, doenças autoimunes, depressão, Alzheimer, câncer, sarcopenia (perda de massa muscular), osteoporose e até infertilidade.
A boa notícia é que a inflamação pode ser revertida. E a chave não está em remédios ou suplementos milagrosos, mas em mudanças sustentáveis no estilo de vida.
Enxaqueca: confira 10 perguntas e respostas para a condição
A enxaqueca crônica atinge duas em cada 100 pessoas em todo o mundo e seus sintomas afetam a vida pessoal, a produtividade no trabalho, o lazer e o bem-estar.
A enxaqueca crônica atinge duas em cada 100 pessoas em todo o mundo e seus sintomas afetam a vida pessoal, a produtividade no trabalho, o lazer e o bem-estar. A enxaqueca crônica é caracterizada por crises frequentes que se repetem por um período prolongado: são 15 dias ou mais de dor de cabeça por mês, durante mais de três meses.
Em pelo menos oito desses dias, os sintomas devem ter as características típicas da enxaqueca: dor latejante (geralmente afetando um lado da cabeça); náuseas e vômitos que acompanham a dor, e sensibilidade à luz e ao som.
A enxaqueca é uma condição hereditária que faz com que a pessoa desenvolva, ao longo da vida, crises com vários sintomas – entre eles, a dor de cabeça. A maioria das pessoas tem apenas alguns episódios de crise ao longo da vida, enquanto outras pessoas desenvolvem muitos episódios de crise e isso se torna uma doença.
“Embora a enxaqueca não mate, ela pode maltratar muito a vida da pessoa. Uma paciente me falou que enxaqueca não mata, mas faz te sofrer tanto até você querer que ela matasse. Alguns dados recentes demonstraram que a enxaqueca é a segunda maior causa de anos vividos por incapacidade na população mundial”, afirma o neurologista dos Hospital das Clínicas e coordenador do Comitê de Educação da Sociedade Internacional de Cefaleia, Marcio Nattan.
Quais são os sintomas mais comuns da enxaqueca?
Muitas pessoas reconhecem a enxaqueca pela dor de cabeça, mas esse não é o único sintoma, apesar de ser um marcador importante nas crises.
A dor de cabeça sem localização, intensidade e frequência específicas pode ser latejante e pulsátil (mais comum) ou por pressão; intensa, (durar horas e até dias) ou pode ser uma crise isolada. Pode doer na frente, na lateral, atrás da cabeça, atrás dos olhos, na cabeça inteira, dos dois lados ou só na têmpora.
Confira outros sintomas que podem acompanhar a dor de cabeça oriunda de enxaqueca:
- Dificuldade de concentração
- Irritabilidade
- Rigidez da musculatura do pescoço
- Náusea
- Enjoo
- Vômito
- Hipersensibilidade ao ambiente, que inclui: desconforto com a luz, com barulho, com o movimento e/ou com o cheiro
- Vontade súbita e intensa de comer doce
Foto: Blog Andreia Torres
O que causa enxaqueca?
A enxaqueca tem um importante fator genético, mas isso não é válido para 100% das pessoas, porque não se trata de uma doença monogênica (causada por mutações em um único gene). Ela é, na verdade, uma condição causada por um conjunto de genes que se expressam com a possibilidade de desenvolver crises.
“Existem fatores da vida de uma pessoa que podem contribuir para que ela tenha aumento de frequência das crises. Mas tudo isso acontece sobre uma base genética hereditária”, destaca Nattan.
Qual a diferença entre cefaleia e enxaqueca?
O termo cefaleia é usado para descrever o sintoma dor na cabeça. E existem muitas doenças que podem gerar dor na cabeça, como sinusite, covid, trombose na cabeça ou até mesmo um AVC ou um trauma.
Já a enxaqueca não é só a dor de cabeça. A cefaleia é um sintoma da enxaqueca, mas há vários outros, conforme mencionado anteriormente.
Por isso, a enxaqueca é uma condição que tem vários sintomas, entre eles a cefaleia.
A cefaleia de tensão é caracterizada por:
- Ser bilateral (dos dois lados)
- Ser sentida/percebida como pressão
- De intensidade fraca a moderada
- Pode durar de minutos a dias
- Não piora com atividade física rotineira (caminhar, falar, etc).
- Tende a melhorar com analgésicos comuns
- O local pode variar
Já a enxaqueca é caracterizada por:
- Ser unilateral (mais comum, em torno de 60 a 70%)
- Ser percebida como pulsátil ou latejante
- De intensidade moderada a forte
- Pode durar de quatro a 72 horas
- Piora com atividade física rotineira (caminhar, falar, etc).
- Atrelada a fotofobia (sensibilidade à luz) e fonofobia (sensibilidade a barulhos)
- Pode ser associada a náusea ou vômito
- Pode ser associada a aura, uma distorção que pode ser visual ou sensitiva
Entenda os diferentes tipos de aura:
- Visual: alteração percepção da visão normal, que afeta cerca de 20% das pessoas que têm enxaqueca. Pode ser um borrão, linhas, zigue zagues, estrelas ou uma mancha, por exemplo
- Sensitiva: pode se manifestar, por exemplo, com um formigamento de um lado do corpo
OBS: A aura também pode ter sintomas parecidos com o AVC. Porém, na aura, o sintoma da visão é progressivo e dura entre 5 e 60 minutos, enquanto no AVC acontece de uma vez e dura por horas ou dias.
“A aura às vezes se torna uma coisa dramática. A pessoa não consegue dirigir, ler, nem fazer várias funções porque a visão fica muito prejudicada. Mas isso não é uma coisa contínua, é progressiva”, explica Nattan.
A enxaqueca tem cura?
Por ser uma condição genética e crônica, a enxaqueca não tem cura definitiva, mas pode entrar em remissão em alguns pacientes com tratamento adequado.
“A cura da enxaqueca não é uma coisa que a gente pode chamar de realista.
Mas é muito importante entender que ter uma crise esporádica é diferente
de que tem a doença enxaqueca com muitas crises frequentes e intensas,
que impactam muito a qualidade de vida da pessoa”, destaca Nattan.
Foto: Shutterstock/g1
Quais os tipos de enxaqueca?
As classificações para a enxaqueca ajudam a definir o tratamento, mas a doença é a mesma. Essas classificações têm relação com ter ou não aura e com a frequência, por exemplo.
- Enxaqueca crônica: quando as crises acontecem mais de 15 dias por mês por mais de 3 meses.
- Enxaqueca com aura: acompanhada de uma distorção que pode ser visual ou sensitiva, conforme citada anteriormente
- Enxaqueca vestibular: quando além dos fenômenos da enxaqueca já mencionados, também surgem fenômenos de vertigem e tontura rotatória.
- Enxaqueca hemiplégica (extremamente raro): a pessoa tem paralisia de um lado do corpo e perda força de um lado do corpo no fenômeno da aura.
Como é feito o diagnóstico da enxaqueca?
O diagnóstico da enxaqueca é clínico. Ou seja, é feito a partir da história que o médico colhe com o paciente e do exame físico. Isso porque o cérebro da pessoa que tem enxaqueca é normal estruturalmente. Não tem uma lesão que justifique a enxaqueca, porque ela tem origem genética. Alguns neurônios funcionam de uma forma alterada durante um período de crise e depois voltam a funcionar de forma normal.
Os exames de imagem como tomografia e ressonância magnética não apresentam alterações específicas na enxaqueca, pois não há lesão estrutural.
“Geralmente, quando o médico pede um exame por conta de suspeita de enxaqueca é porque ele está na dúvida se é enxaqueca ou se é uma outra coisa, como um tumor, uma lesão inflamatória ou infecção”, explica Nattan.
Quais são os tratamentos disponíveis?
Como a intensidade e frequência da enxaqueca variam muito de pessoa para pessoa, nem todo mundo precisa de tratamento preventivo contínuo. Mas quando esse tratamento é necessário, ele pode ser feito tanto com medicamentos de outras áreas da medicina que tiveram comprovação do seu efeito no tratamento da enxaqueca, quanto com medicamentos específicos, desenvolvidos para tratar enxaqueca.
Os medicamentos podem ser divididos em três grandes grupos:
- anti-hipertensivos
- antidepressivos,
- anticonvulsivantes.
Também há tratamentos com a toxina botulínica, a mesma usada para fins estéticos e outros fins terapêuticos.
Além do tratamento preventivo que visa diminuir o número e a intensidade das crises, também existe o tratamento agudo, para controla a dor que já se instalou.
No tratamento agudo, podem ser usados medicamentos como analgésicos comuns, anti-inflamatórios e medicamentos específicos para enxaqueca, como as triptanas.
Além dessas opções encontradas no Brasil, existem outros medicamentos – tanto preventivos quanto de crise – que são específicos para enxaqueca e já estão disponíveis em outros locais:
- Preventivos: Rimegepant, Atogepant, Eptinezumabe e Erenumabe.
- Tratamento de crise: Ubrogepant, Zavegepant e Rimegepant.
“Uma pessoa que tem crise muito de vez em quando, menos de uma vez por mês, não tem necessidade de um tratamento específico, contínuo e medicamentoso. Já a pessoa que tem 8, 12, 15 ou mais dias de dor por mês definitivamente precisa de um tratamento medicamentoso em conjunto com todas as outras medidas para a melhora da qualidade de vida”, explica Nattan.
O primeiro tratamento preventivo específico para enxaqueca crônica e intensa – usado de forma contínua para diminuir a frequência e intensidade das crises e assim melhorar a qualidade de vida – é feito à base de anticorpos monoclonais anti-CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina).
São medicamentos desenvolvidos a partir do entendimento do processo biológico da enxaqueca no cérebro e no sistema nervoso periférico. Dois deles estão disponíveis no Brasil: Fremanezumabe e Galcanezumabe (que são medicamentos de alto custo). E outros dois estão disponíveis apenas em outros países: eptinezumabe e erenumabe.
E os gepants (atogepant e rimegepant) são uma nova classe de medicamentos usados no tratamento da enxaqueca, com foco em bloquear a ação do CGRP, mas diferente dos anticorpos monoclonais.
Especialistas sugerem um terceiro elemento do tratamento, que é o estilo de vida do paciente. E isso consiste em combinar exercícios aeróbicos (como natação, caminhada ou corrida) com exercícios de força e seguir os seguintes cuidados:
- Cuidar a higiene do sono
- Evitar temperaturas extremas durante a prática de atividade física
- Hidratar-se adequadamente
- Não pular refeições
- Moderar o consumo de café para uma xícara ao dia
- Não ultrapassar limites (cada pessoa deve identificar os limites de tempo e intensidade após os quais seus sintomas aparecem, para não ultrapassá-los).
Alimentos podem desencadear enxaqueca?
Segundo Nattan, embora os estudos com a melhor metodologia falharam em demonstrar que algum tipo de alimento seja efetivamente gatilho para crise, hoje a melhor explicação para isso é a seguinte:
Quando a crise de enxaqueca começa, horas antes e às vezes até dias antes, a pessoa já pode ter outros sintomas, como dificuldade de concentração, irritabilidade e até uma ‘fissura alimentar’ (vontade intensa de comer doce).
“Mas não é que a crise foi causada por chocolate. É que na verdade, o chocolate já era um sintoma que fez a pessoa procurar o chocolate nessa fase inicial da crise e ela já iria desenvolver a dor de cabeça, independente de comer chocolate”, explica o neurologista.
Mas embora os alimentos não sejam gatilhos, é muito importante as pessoas terem uma dieta balanceada, com menos produtos industrializados, uma dieta colorida e rica em nutrientes.
A enxaqueca é perigosa?
Embora não seja fatal, a enxaqueca pode impactar gravemente a qualidade de vida. Casos crônicos mal controlados podem levar a distúrbios de humor, insônia e uso excessivo de medicamentos, o que piora o quadro.
Fonte: g1.globo
Problemas para dormir? Médico compartilha um jogo cerebral simples que ajuda a pegar no sono
Os truques citados pelo especialista são uma forma de dizer o cérebro que é seguro adormecer.
A hora de dormir é a hora mais prazerosa após um longo dia. Para outros, é como se deitar na cama para pegar no sono iniciasse um campo de batalha. No entanto, de acordo com o médico Scott Walter, de Connecticut, nos Estados Unidos, em um vídeo que já acumula mais de 4,3 milhões de visualizações no TikTok, existem truques fáceis — além do óbvio — para ajudar no processo de adormecer.
Foto: FreePik
Embaralhamento cognitivo
“Sou médico e às vezes tenho dificuldade em adormecer, e vou contar sobre o método que funcionou para mim, uma vez que o aprendi. Não envolve tomar melatonina ou outros suplementos, não envolve tomar banho quente antes de dormir, nem mesmo ler. É um simples exercício mental que chamamos de embaralhamento cognitivo”, promete o especialista.
Segundo ele, este método, que consiste em reorganizar os pensamentos, é como embaralhar um baralho de cartas. Desta forma, se torna possível distrair a mente de pensar conscientemente pois isso atrapalha o processo de adormecimento.
O especialista explica que existe mais de um tipo de embaralhamento. Um deles é pensar qualquer palavra ou forma que venha à mente de forma aleatória, que não tenham relação entre eles.
“Por exemplo, vaca, folha, sanduíche, manteiga, fígado, coisas assim. Apenas coisas aleatórias que não fazem sentido”, afirma o médico.
O outro, também indicado por Walter, é escolher uma letra do alfabeto, e em seguida, iniciar uma contagem dos batimentos do coração. A partir de oito batidas, uma palavra deve ser escolhida começando com a letra escolhida.
“Você deve estar se perguntando: ‘como isso realmente funciona?’. Além de distrair o seu cérebro, o embaralhamento cognitivo imita o que chamamos de ‘micro sonhos’, que ocorrem durante a transição até o sono. Então, é uma forma de dizer ao seu cérebro: ‘ei, é seguro dormir agora'”, explica o especialista.
Fonte: O Globo
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