:: ‘#Afeto’
Cartas na era digital: entenda o que tem levado algumas pessoas a resgatarem prática
Em tempos de mensagens instantâneas, emojis e notificações, há quem prefira o caminho mais lento — e mais afetivo.
Em tempos de mensagens instantâneas, emojis e notificações, há quem prefira o caminho mais lento — e mais afetivo. Escrever cartas à mão, com papel, caneta, selo e tempo, virou um hábito redescoberto por milhares de brasileiros.
Um clube que une desconhecidos por palavras escritas
A jornalista e publicitária Mariana Loureiro criou o Clube do Envelope de Papel e já conectou mais de 4 mil pessoas pelo Brasil. A proposta é simples: escrever cartas à mão e esperar pela resposta. Mas tem regras.
“Você pode demorar um dia, uma semana, um mês para responder.
O importante é que você responda. É um compromisso
de amizade”, explica.
Canetas, tesouras, selos — tudo vira parte da experiência.
“Tenho selo de boneca de barro, de abelha, de tatuagem…”
Foto: TV Globo
A arte de esperar — e de decorar
A empresária Tatiana Naiara Silva, uma das integrantes do clube, explica o que leva essas pessoas a escreverem em plena era digital:
“É justamente porque como estamos vivendo num período
onde tudo é tecnológico, onde tudo é imediato, o e-mail é bem rápido.
A gente desaprendeu a esperar. E aí a carta, ela exige isso, que você
espere uma resposta que não sabe nem se vem”.
Ir aos Correios virou prazer
Gabriela Carvalho, outra participante, mora em um lugar onde o carteiro não passa. Mesmo assim, faz questão de ir aos Correios.
“O tempo é precioso. Então, eu fico feliz em saber que
alguém está dividindo o tempo dela comigo”.
Foto: TV Globo
Mais do que papel: é afeto
As repórteres Bianka e Liliana também participaram da experiência. Bianka aguardou três dias até que a carta enviada de Belo Horizonte chegasse a Recife:
“Belo Horizonte, 20 de agosto de 2025. Querida Bianca, Espero que esteja tudo bem por aí. Escrevo para contar um pouco do que faço para me desligar dessa nossa correria. Tenho certeza que você tem uma nuvem para chamar de sua, cheia de memórias digitais, fotos, textos e fragmentos da vida. Quando penso nisso, me lembro que nuvens reais, essas que atravessam o céu todos os dias, diante de nós, guardam sentimentos, emoções, Olhar para elas é como eu me desconecto. Adoro tecnologia, mas gosto mais desta vida que pulsa fora da tela”.
Na carta de volta, Bianka escreveu:
“Oi, Liliana, tudo bem por aí? Vendo as pessoas escrevendo cartas, eu lembrei de quando escrevia, bateu saudade. Eu adorava recebê-las, era uma espera boa danada. Porque eu conhecia menos a pressa de hoje. Minha urgência era viver com calma. Você me entende? Preciso de silêncio às vezes para conseguir me ouvir. De beleza fora da tela, para alimentar a alma. Eu acho incrível tecnologia e tudo. E aprendi a ser digital. Mas meu coração é analógico. Lili, a gente tem que se conhecer pessoalmente, né? Um beijo grande. E um abraço forte para você, Bianca”.
Foto: TV Globo
Para além da nostalgia
Para o professor Bernardo Conde, antropólogo da PUC Rio, esse movimento não é só saudosismo.
“Eu acho que é um sinal dos tempos de mudança, de um desejo de buscar alguma coisa, que rompa com esse
cotidiano de muita informação, de excesso de tela, necessidade de estar online o tempo todo para não perder nada. É uma
experiência no qual eu vou estar presente, exige uma certa dedicação exclusiva. E essa dedicação exclusiva
faz eu mobilizar minhas sensações, meus sentimentos, porque eu tenho tempo para entrar em contato com eles.”
Fonte: G1/Globo Repórter
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