O que vem depois do Oscar? E como aproveitar o embalo de ‘Ainda Estou Aqui’?
Melhor Filme Internacional do Oscar, o longa de Walter Salles levou o brasileiro aos cinemas e apresentou uma outra face do Brasil ao mundo – e ao próprio País. Agora, é preciso continuar
Walter Salles e Fernanda Torres no 97º Oscar. Foto: Monica Schipper/Getty Images
Pegar uma carona na vitrine global do cinema promovida pelo Oscar é bom para todo mundo, como a Letônia (com a animação Flow) e o Brasil agora podem comprovar. É provável que muita gente espalhada pelo mundo tenha assistido ou venha a assistir pela primeira vez a um filme brasileiro. É provável também que muita gente por aí, para quem a cultura brasileira se resumia ao eixo samba-Carnaval-futebol, tenha sido apresentada a uma dimensão até então desconhecida de nossa identidade. Brasileiros também fazem filmes, e até ganham o Oscar. Ah, esses brasileiros. Muito bem.
Precisamos emplacar filmes no Festival de Cannes, em maio. Devemos repetir a presença, em agosto, no Festival de Veneza, onde começou a bem-sucedida carreira internacional do filme de Walter Salles (com o prêmio de roteiro). Precisamos fincar os pés em outros festivais importantes, de ficção e de documentário, de longas e de curtas, que representam oportunidades de mercado.
Isso tudo não se obtém apenas com filmes, mas também com um esforço de promoção e de divulgação em torno deles. Cinema é arte industrial, como bem sabem os EUA, que melhor disputam (dominam, na verdade) esse jogo.
Cartaz de “Ainda Estou Aqui” – créditos da imagem: Letras de Músicas/Reprodução
Olhemos principalmente, neste início do “dia seguinte”, para a nossa própria casa. O Oscar de Ainda Estou Aqui já exerceu um efeito salutar sobre a percepção de brasileiros a respeito do nosso cinema. Quantas pessoas terão retornado a uma sala, depois de longa ausência em que se mantiveram no sofá de casa, por causa dele?
O fato de o filme não estar ainda disponível no streaming, no Brasil e nos EUA, contribuiu para aquecer o mercado de exibição, com desdobramentos positivos sobre o hábito de ir ao cinema. Bom para todos os filmes, não só para os brasileiros. Mas como garantir que, no caso da produção nacional, esse espaço continue a ser bem ocupado? Por meio de políticas de longo prazo de distribuição e de exibição, capazes de chamar a atenção para o fato de que, além do valor cultural, o audiovisual cria empregos e movimenta a economia.
Políticas de Estado, e não só de governo, como as que beneficiam outros setores. E que envolvam uma dimensão fundamental para o acesso à cultura: a formação de espectadores.
‘Ainda Estou Aqui’ ganhou exibição ao ar livre no Centro Cultural São Paulo, em janeiro. Foto: Fabio Vieira/Estadão / Estadão
Quantos adolescentes prestes a concluir o Ensino Médio seriam capazes de citar três ou quatro momentos importantes na história do cinema brasileiro? Quantos já ouviram falar de Adhemar Gonzaga, Humberto Mauro, Carmen Santos e Glauber Rocha, para citar quatro personagens fundamentais em um universo de centenas? Quantos sabem que, antes do Oscar, o cinema brasileiro já havia sido premiado em todos os festivais de primeira grandeza? Quantos estarão dispostos, na idade adulta, a se transformarem em espectadores regulares da produção brasileira, e a transmitir esse hábito a seus filhos e netos? Quantos dispõem de ao menos uma sala de cinema — comercial ou num espaço cultural — em seus bairros ou mesmo em suas cidades, a preços populares?
Agora, que passou o carnaval. O “dia seguinte” para o audiovisual brasileiro é de trabalho, para os profissionais da área e para todos os que se importam para valer — ou seja, muito além dos posts lacradores nas redes sociais — com o fortalecimento da cultura brasileira.
Fonte: terra.com











